11/11/2009

A caixa de Pandora

As duas estavam sentadas num muro. Uma mulher velha e uma mulher jovem.
As mãos, quase juntas não se chegavam a tocar e no entanto, já haviam estado dadas.
As duas fixavam o horizonte, mas os pensamentos eram diferentes.
A jovem olhava para fora, a velha olhava para dentro.

A jovem pensava em toda a beleza que via.
A velha, em toda a tristeza que sentia.

A jovem imaginava o que ainda a esperaria.
A velha, a caixa que se abria. A caixa de Pandora.

Todas as experiências vividas. Todos os rancores tão guardados. Tudo o que ela pensava ter tão bem enterrado, fechado a sete chaves, surgia em catadupas, com uma raiva incontrolável. Pior ainda. O mal que o tempo não destrói, o tempo distorce ou aumenta...À raiva sucedia a tristeza, à tristeza sucedia a raiva, raiva da impotência em fazer partir tudo isso. E a beleza do horizonte escorregava pelos olhos que olhavam sem ver. Esta sua mania de tudo analisar, de tudo dissecar, seria isso que a tornava tão triste e simultaneamente tão furiosa?

Chegada a este ponto, Margarida fechou o livro e olhou para o muro.
Neste não se encontravam sentadas duas pessoas mas apenas uma, uma figura feminina, de meia-idade talvez.
Impossível saber no que a mesma pensava...